A crise da saúde e o Facilities Management

A experiência de vivermos isolados e o impacto nos workplaces

No primeiro semestre de 2020, passamos por dias nos quais muitos de nós fomos impactados por uma contingência vivenciada pela maioria da humanidade global; isso resultou numa avassaladora lista de milhões de mortes causadas por um vírus – não por uma guerra armada – já que vivemos em um ambiente de paz mundial. Não se pode esquecer, claro, que os contínuos conflitos e dramas econômicos, políticos e sociais permanecem.

Como ainda sou uma sobrevivente e muito grata por esta oportunidade, peço permissão para compartilhar alguns insights com você, leitor, uma vivência pessoal e empresarial; ela passa pela conexão com a atividade que exerço profissionalmente – Facilities Management. Trata-se de uma função organizacional que integra pessoas, espaços e processos dentro de um ambiente construído com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas e a produtividade do negócio.

Para melhorar a própria qualidade de vida e a produtividade, juntamente com outras questões – que incluem trânsito, insegurança e distanciamento urbanos –, há tempos resido à distância de 700 metros do escritório; embora o local no qual trabalho não seja uma solução imobiliária, tipo mixed-use, sou privilegiada nesta questão!

Na verdade, nunca percebi muito sentido nos meus próprios traslados; bem como no de outros profissionais que dedicam meses da sua vida a subir e descer de metrôs, ônibus, aviões, ou, ainda, sentar em um carro em uma fila para ir para o outro lado da cidade encontrar outro espaço fechado onde fazem as mesmas coisas que podem fazer em casa, com o auxílio de soluções digitais. Mas, estar no ambiente de trabalho, na convivência dos colegas e lincada com os objetivos do dia a dia empresarial, me realiza profissionalmente.

Entretanto, a experiência de vivermos isolados por semanas, bombardeados obsessivamente pelas notícias em jornais, no rádio e nas redes sociais – em meio a centenas de horas de palestras, nas quais todos finalizam com a mensagem de absoluto autoisolamento – levaram-me e também a tantos milhares de brasileiros, à prática do “forced home office”.

Minha provocação: qual é o impacto deste isolamento na minha experiência vivida e na de outros profissionais corporativos, incluindo CEOs e C-Levels? O que esta contingência despertou? Para mim, o impacto
mais simples foi o mobiliário, com destaque para a cadeira aqui de casa, que não é adequada para passar oito horas trabalhando, pois falta ergonomia laboral e isso me deixou com dor nas costas… mas, logo fui ao escritório resgatar minha cadeira, e o segurança do prédio nem se deu conta desse fato.

Na minha autorreflexão, o home office é, certamente, uma solução que manteremos nas futuras formas de trabalhar. É uma conquista irreversível para a qual não é possível voltar. Muitos sociólogos já conversavam sobre isso em tempos inesperados, falando sobre melhor qualidade de vida, maior produtividade, oportunidade de combinar trabalho, família e espaço privado, de uma maneira mais satisfatória.

Afinal, mundialmente, há um esgotamento profissional que provoca distúrbios emocionais com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico; como resultado de situações de trabalho desgastante, advindos de demandas por muita competitividade ou responsabilidade profissional, sem contar o estresse dos percursos casa x trabalho x cliente x escola x casa…

Diferenças e ganhos

Sabemos que no ambiente residencial, não é possível desenvolver muitas atividades “fabris”, embora seja um local onde gerenciar a distância – uma competência que muitos ainda não temos – é algo totalmente factível. Além disso, são excelentes os benefícios que as edificações e os espaços de trabalho atuais nos possibilitam, já que permitem um melhor bem-estar e nos conectam de forma melhor em relação às condições existentes em nossas casas.

Agora, como empresários, se somarmos a experiência do isolamento – considerando produtividade e melhoria na qualidade de vida pessoal e familiar (quando há uma boa convivência) – com as contas inerentes aos custos dos espaços de trabalho, que integram atividades integradas – como manter orçamentos para custear limpeza, manutenção, segurança, workplace, climatização, alimentação, transporte, viagens, frotas, energia, IPTU, aluguel, custos condominiais etc – precisamos fazer outra pergunta:

Por que investir em dezenas de metros quadrados de escritórios para abrigar tantas dezenas de colaboradores, sendo que parte deles poderiam realizar seu trabalho em casa (não, necessariamente todos os dias), sem impactar as cidades diariamente, minimizando acidentes no trânsito, insegurança e, ainda, minimizando o estresse, melhorando produtividade, vivendo melhor e sendo mais sustentáveis?

O que quero mostrar é que os espaços de trabalho precisam e irão passar por uma profunda metamorfose e a primeira delas é que enquanto a vacina contra a Covid-19 não garantir a todos nós certa imunidade contra
a doença, nossa disposição para mergulhar em um local muito popular ou circular de um lado para outro, seja a que distância e onde for, será muito limitada e continuará impactando os negócios e as economias globais.

Repensar o workplace em conjunto com colaboradores, arquitetos e facilities manager é uma ação que pode contribuir, e muito, para se repensar a demanda “única” de cada organização empresarial, que pode ter um mix de opções de como performar resultados melhores, com maior produtividade e bem-estar. Trabalhar em qualquer lugar (anywhere) é o desafio!

Quando voltarmos à normalidade, as empresas que sobreviverem já terão renascido e os empresários saberão que todos estão trabalhando num formato diferente e numa economia que permanecerá recessiva por um bom período de tempo.

Para os empresários mais impactados, fica a dica de repensar o modelo de negócio e, talvez, até escolher flexibilizar a sobrevida, desmobilizando espaços e mobilizando pessoas, mesmo que parte desses colaboradores estejam trabalhando em qualquer lugar.

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Comunicação em facilities management
– Gerenciamento predial e o facilities management

Mas e o Facilities Management?

Por tudo isso, é primordial ressaltar a importância das atividades que integram o Facilities Management, que além de ser um conceito moderno de serviços integrados, considera a propriedade em sua complexidade. A propriedade, a edificação, é uma máquina que se move simultaneamente em várias direções e requer habilidades diferenciadas e qualificadas que devem competir juntas.

O edifício representa uma herança que deve gerar valor. O Facility Management é a ferramenta de gerenciamento e controle de todos os recursos disponíveis, que se combinam de forma integrada, para fornecer e manter níveis de serviço capazes de satisfazer solicitações expressas e mensuráveis das empresas.

Para os Facilities Manager, a contingência da Covid-19 trouxe uma oportunidade de profunda renovação, começando por entender a limpeza dos espaços como um vetor de saúde e bem-estar e, por que não, como uma questão sanitária?

Oportunidade de atender todas as demandas dos colaboradores que foram para o home office, reorganizando a disponibilidade da cadeira, do notebook que muitos não possuíam, da falta deles no mercado para aquisição, de encontrar soluções mobiliárias para aqueles que moram em minúsculos apartamentos, para aqueles que não tinham gadgets compatíveis para acessar a plataforma de gestão das empresas…

Considerações finais

Estamos envolvidos por uma reorganização radical das prioridades do engajamento de todos com a nova condição de trabalho, em relação ao que se podia ou não fazer, principalmente no que diz respeito à ocupação, à segurança e à saúde dos colaboradores. Os profissionais de Facilities Management mostraram o valor da atividade como área indispensável dentro das organizações e das edificações.

Para mim, a Covid-19 nos fez compreender que a vida pode ser diferente e que podemos mudar a forma de trabalhar. Estamos numa nova realidade! Acredito que essa experiência repleta de privações e privações de luto nos fará entender ainda mais o valor do respeito e, portanto, da liberdade.

E, para quem não conseguiu ainda compreender este estágio de necessária evolução, que pelo menos tenha aprendido a higienizar as mãos corretamente, um simples hábito, que pode salvar vidas!

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