Como será o retorno gradativo aos escritórios?

Nos últimos meses, a vacinação no Brasil se acelerou. Atualmente, mais da metade da população tomou, pelo menos, a primeira dose do imunizante contra a Covid-19. Com isso, é correto dizer que estamos adentramos a melhor fase desde que fomos acometidos por esta crise sanitária. O momento é de otimismo e expectativas positivas para dias melhores e pela retomada gradual das atividades econômicas. Com isso, todos querem saber: Como será o retorno gradativo aos escritórios?

Em São Paulo, maior centro empresarial do país, mais de 90% dos paulistanos acima de 18 anos já receberam ao menos uma dose. Os efeitos da imunização começam a ser sentidos no sistema de saúde: no início deste mês, a ocupação dos leitos de UTI no estado foi menor do que 50% pela primeira vez em 2021.

Com isso, segundo matéria publicada no portal InfoMoney em 16/08, tem sido cada vez mais claro o desejo das empresas em retomar as atividades presenciais nos escritórios, mesmo que de maneira híbrida.

Segundo estudo realizado pela consultoria KPMG no primeiro semestre, 66% das empresas estavam interessadas em voltar ao trabalho presencial ainda em 2021, e os 34% restantes em 2022.

A situação, porém, mudou desde o levantamento. “Agora estamos vendo que está em um patamar de 50% para voltar neste ano e 50% no ano que vem”, afirma Luciene Magalhães, sócia da KPMG.

Não por acaso, 74% das empresas ouvidas pela consultoria afirmam que os planos da volta ao trabalho presencial mudaram em algum momento por causa do surgimento de novas cepas. Além disso, a vacinação completa ainda está na casa dos 20%, o que também atrapalha a retomada.

Outra matéria mais recente, do Valor Econômico publicada em 17/08, aponta um levantamento da corretora de seguros It’sSeg, especializada em gestão de benefícios. Nesta pesquisa 62% das empresas planejam o retorno presencial dos funcionários ainda em 2021. Desse total, 40% querem fazê-lo ainda neste mês de agosto, 12% em setembro, 24% em outubro, 16% em novembro e 8% em dezembro.

Isso só demonstra que, seja como for, o retorno ao trabalho nas empresas volta a ganhar força e fôlego.

O que as empresas dizem

Em junho passado, a Buildings realizou uma Pesquisa de Mercado intitulada “Escritórios, home office e a pandemia: o que mudou nestes últimos meses”. O objetivo foi checar as movimentações que ocorreram no mercado de escritórios desde que a pandemia se instaurou e o fechamento dos espaços comerciais teve de ocorrer.

A pesquisa contou com a colaboração de mais de 100 empresas. Destas, cerca de 80 estão localizadas em São Paulo capital. Para conferir a pesquisa completa, clique aqui.

O primeiro dado importante para o mercado imobiliário que merece destaque é que “a maioria das empresas com mais de 100 funcionários não reduziu seus escritórios”, conforme apurado:

Das empresas com metragem quadrada entre 700m² e 1000m², apenas 1 informou que “Reduziu seu escritório no mesmo local”. Ela declarou possuir entre 30 e 50 funcionários e que também “Teve MUITA facilidade para se adaptar ao modelo home office”.

Um exemplo de empresa com mais de 100 funcionários que ainda não tinha o modelo home office em prática e que declarou ter duplicado de tamanho durante a pandemia foi a EZTEC. 

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Modelo híbrido

O modelo híbrido é visto tanto por empresas quanto por especialistas como um caminho sem volta. Uma pesquisa realizada pela companhia de coworking WeWork com a consultoria Workplace Intelligence aponta que 53% dos funcionários desejam trabalhar em casa três ou mais dias por semana.

O Mercado Livre vai apostar nesse modelo, mas hoje vive uma dualidade. Enquanto há mais de 6 mil colaboradores trabalhando presencialmente nos centros logísticos, a sede, em Osasco (SP), com mais de 33 mil m², está vazia.

Nesse segundo caso, mesmo sem prazo para voltar, há uma certeza: o retorno será no esquema híbrido. A empresa criou um comitê para avaliar a volta e definiu que, quando tudo estiver normalizado, 50% da carga horária dos funcionários será de casa e a outra metade, na sede.

Há, ainda, aquelas empresas que estão mais conservadoras quanto à volta ao escritório, como é o caso da empresa de benefícios Ticket. A companhia já possuía um programa de trabalho híbrido – misturando presencial e home office – desde 2018. Mas, com a pandemia, 100% dos funcionários foram para casa e por lá ficaram.

Agora, a empresa começa a desenhar um retorno dos 600 colaboradores em três fases. A primeira delas, que deve ocorrer ainda neste ano, contemplará apenas voluntários vacinados e deve alcançar cerca de 10% dos funcionários, sendo que serão dois dias no escritório e três em casa.

Já a segunda terá um aumento considerável, de até 50%, respeitando os protocolos de distanciamento. A terceira fase, que só deve acontecer no ano que vem, terá 100% dos funcionários, mas trabalhando no modelo híbrido.

Ainda de acordo com o levantamento da It’sSeg, o modelo híbrido será realidade para 82% das companhias que planejam o retorno neste ano. Pouco mais de 15% afirmaram que irão voltar totalmente presencial e 2% que permanecerão em home office.

Na avaliação de Thomaz Menezes, presidente da empresa, as relações pessoais sofreram grande impacto com o home office.

Considerando aquelas que pretendem voltar este ano, 89% disseram que irão adotar a obrigatoriedade do uso de máscaras, 85% criarão maior espaçamento nos ambientes, 85% medirão temperatura e 54% irão flexibilizar horários de trabalho. Mais de 60% delas trabalham com uma estratégia de retorno gradativo – sendo que 35% estão analisando faixa etária, 34% área da empresa, 6% cargos e 14% grupos de risco e com comorbidades em sua força de trabalho.

Ainda sobre a Pesquisa de Mercado da Buildings realizada em junho, perguntamos sobre a empresa já possuir o modelo home office antes da instauração da pandemia. Os resultados foram:

Quanto às mudanças que a pandemia proporcionou, perguntamos como as empresas enxergam o futuro do trabalho no escritório.

Fernando Didziakas, sócio diretor da Buildings, avalia que o retorno do trabalho no escritório é positivo.

“Estamos muito otimistas com a retomada do mercado e a volta gradativa das pessoas aos escritórios, agora em agosto, e com mais força ainda em setembro. Conseguimos manter a qualidade do trabalho durante esse período mais ostensivo de home-office, mas não vemos nossa atuação como empresa sem a presença no escritório. É parte da nossa cultura, ajuda muito no processo de integração e no processo criativo. Estamos voltando há bastante tempo e aumentaremos nossa presença no escritório a partir de setembro”.

Saudade da rotina no escritório

O trabalho em casa não agrada a todos. Segundo pesquisa, existe uma fatia de 34% que gostaria de trabalhar todos os dias no escritório, seja por falta de estrutura em casa ou por se concentrar melhor no escritório, segundo o estudo da WeWork e da Workplace Intelligence.

Esse cenário é cada vez mais distante, mas há empresas que querem 100% da sua força de trabalho em alguns dias da semana. É o caso da Simpress, que faz locação de equipamentos e soluções para gestão de documentos. A empresa viu a demanda para seus negócios, especialmente para a locação de computadores e notebooks, disparar durante a pandemia.

Com um crescimento de 35% no primeiro semestre e para dar conta da demanda, o presidente da empresa, Vittorio Danesi, esperava que essa volta fosse ser mais rápida.

Hoje, o escritório da companhia está completamente vazio. Danesi, porém, espera que até dezembro todos os seus 1,9 mil funcionários estejam vacinados e trabalhando presencialmente de terça a quinta – já segunda e sexta, farão home office.

A partir de setembro, todos os funcionários que tiverem tomado as duas doses serão convocados a voltar à sede.

Retorno aos escritórios

Para Sofia Esteves, presidente do conselho do grupo Cia. de Talentos e colunista da Exame, é preciso que as empresas pensem campanhas internas de informação, falem com médicos, passem a mensagem de que os funcionários precisam zelar pela saúde coletiva e que a imunização seja tratada como uma questão de bem-estar comum.

“As empresas estão optando por voltar aos poucos, para testar se há novos casos e como está a motivação dos funcionários. Ainda são muitas incertezas, muitas variáveis, é preciso pensar no ânimo do indivíduo e do coletivo”, afirma a especialista.

Por outro lado, algumas gigantes pelo mundo estão indo na contramão.

A Apple, por exemplo, está adiando seu prazo de retorno ao escritório em pelo menos um mês, até outubro, em resposta ao ressurgimento de variantes do coronavírus em muitos países.

A Amazon.com anunciou recentemente que não espera que seus funcionários retornem aos escritórios da companhia nos Estados Unidos até o próximo ano, segundo documento interno. A empresa afirma no memorando que está prorrogando o período de home office para 3 de janeiro, ante previsão anterior de a partir de 7 de setembro.

Já o diretor-presidente do UBS, Ralph Hamers, disse que os banqueiros de investimento poderão trabalhar parte da jornada em casa sob um novo modelo híbrido permanente que o banco está implementando.

Embora algumas funções, como as de operadores, sejam mais fáceis de serem executadas no escritório, pelo menos dois terços dos funcionários do banco de investimento terão a possibilidade de trabalhar parte do tempo em casa.

Por outro lado, o Google anunciou em 28/07 que vai cobrar dos funcionários nos Estados Unidos um comprovante de vacinação contra a Covid-19 para poderem acessar escritórios da empresa. A companhia afirmou que vai expandir a medida para outras regiões nos próximos meses.

A empresa também disse que vai ampliar a política de trabalho remoto para no máximo 18 de outubro por causa do recente salto no número de casos de Covid-19 em diferentes regiões causado pela variante delta do vírus.

Seja como for e independente das mudanças, adaptações ou reestruturações que as empresas e escritórios implementaram durante este período pandêmico, existe uma luz que já se mostra no fim do túnel – com maior força do que há três meses – e que já se reflete em oportunidades reais de retomada e crescimento econômico e social.

Fontes: Info Money, Uol, G1, Valor Econômico, Exame, KPMG e Estado de Minas

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