O velho normal está voltando?

Considerado o “novo normal” do mundo corporativo durante a pandemia de Covid-19, o trabalho remoto vem perdendo força já há algum tempo, conforme noticiado por diversos artigos da Revista Buildings. Mas, será que o velho normal está de volta?

A Buildings divulgou também que, nos últimos meses, grandes empresas, como Google, Apple, Meta, Salesforce e Amazon, passaram a convocar os funcionários para o retorno aos escritórios

Até mesmo o Zoom, plataforma de reuniões online que se destacou durante a pandemia e redefiniu o trabalho remoto, exigiu a presença dos seus colaboradores na empresa duas vezes durante a semana.

Isso não significa que o modelo de trabalho totalmente presencial fora restabelecido. Contudo, a presença dos funcionários nas empresas tem sido uma prática constante, ainda que em regime de escala.

Um exemplo significativo é o da empresa Tik Tok, que, para garantir o cumprimento da escala presencial, resolveu adotar um sistema de monitoramento. Esta atitude demonstra como a maioria das empresas, embora flexíveis, não têm aberto mão de reunir suas equipes em determinados momentos.

Outra prova de que o retorno dos profissionais às empresas tem sido cada vez mais comum é o reaquecimento do mercado de escritórios, com saldo positivo de locações. 

Para se ter ideia deste reaquecimento de imóveis comerciais, as regiões onde há a maior procura de anúncios em São Paulo são: Avenida Paulista, Faria Lima, Berrini, Chucri Zaidan e Chácara Santo Antônio. Esses dados foram mapeadas pelo WebEscritórios, o portal de anúncios comercial da Buildings.

O velho normal está de volta?

Com vagas 100% remotas em queda, o modelo presencial retoma o seu posto de “normalidade” corporativa? Segundo o LinkedIn Economic Graph, se em fevereiro de 2022, no Brasil, 40% das vagas anunciadas na plataforma mencionavam a possibilidade de trabalhar remotamente, esse percentual caiu a 25% um ano depois.

De acordo com o portal CNN Brasil, a mesma tendência também é percebida mundialmente. Afinal, a proporção de vagas para trabalho remoto no Brasil está à frente de países como Estados Unidos (12,21%), Índia (21,91%), Espanha (16,63%) e Reino Unido (10,62%), de acordo com dados de fevereiro de 2023.

O principal argumento das companhias na decisão pelo retorno aos escritórios tem sido a busca pela melhoria na produtividade. Inclusive, um estudo da Universidade de Stanford, publicado em julho de 2023, concluiu que o trabalho remoto pode reduzir a produtividade do trabalho de 10% a 20%, comparado a um trabalhador que está 100% do tempo em regime presencial.

E, por estarmos vivenciando um momento econômico desafiador, as companhias estão fazendo de tudo para manter os níveis de rendimento. Por isso, para Maria Eduarda Silveira, headhunter especializada em Liderança, é natural que algumas empresas pensem que trazer seus funcionários para dentro do escritório é uma medida que vai trazer o equilíbrio de forma mais rápida”

Segundo Maria Eduarda, é importante compreender se o retorno ao presencial acontece por uma falsa sensação de controle que as companhias querem ter, ou porque este regime de trabalho realmente faz mais sentido para a estratégia de negócio.

Para a especialista, a gestão de desempenho ainda não é uma política bem estruturada dentro das empresas no país, e que precisa ser melhor elaborada pelas lideranças, seja no modelo presencial ou remoto. 

Embora, segundo a headhunter, exista uma dificuldade maior de liderar no modelo home office, “podemos ser mais criativos e buscar resolver problemas novos com soluções que ainda não existem. Estamos aprendendo a fazer isso”, avalia a especialista.

Futuro do trabalho em construção

Em entrevista ao portal CNN Brasil, Cristina Goldschmidt, professora da FGV e especialista em Liderança e Gestão, sugere que as pesquisas sobre produtividade e modelo de trabalho sejam avaliadas quantitativamente a cada caso, ao invés de qualitativamente.

Segundo a professora, “precisamos medir o impacto de cada modelo, considerando o valor agregado de cada um no resultado produtivo. É importante entender os benefícios que o modelo remoto traz em cada tipo de trabalho”.

Para Cristina Goldschmidt, existe uma mão de obra mais operacional que precisa de supervisão constante, e o trabalho remoto pode comprometer a produtividade desses trabalhos. O mesmo funciona com a nova geração de trabalhadores, que no modelo presencial podem ser capacitados mais rapidamente.

Se, por um lado, a pesquisa de Stanford indicou problemas de comunicação, dificuldade de atuar em níveis mais criativos e queda na produtividade como principais desafios de um trabalho 100% remoto, por outro, ela identificou que o trabalho híbrido pode ter leves efeitos positivos na produtividade.

Isso se deve ao fato de o modelo híbrido poupar cerca de duas ou três horas de deslocamento por semana, deixando os funcionários mais produtivos nos dias de trabalho em casa (home office). 

A CEO da Caliandra Saúde Mental, Erica Siu, por sua vez, ressalta que ambos os modelos, presencial e remoto, têm benefícios e desafios. Para ela, independentemente da empresa ou do modelo, é fundamental que exista um olhar para a saúde mental. Por isso, as transições devem ser realizadas com cuidado e de forma responsável.

O que se pode concluir das análises feitas por todas essas profissionais é que não existe uma receita de bolo. O futuro do trabalho está sendo construído a cada dia, e, com ele, o mercado de escritórios segue se movimentando.

Notícia do Portal CNN Brasil

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